Desejo e hierarquia: por que os poderosos gostam tanto de BDSM?
Pesquisas mostram que quanto maior o status, maior o tesão em ser dominado. Coincidência?
Fetiche e BDSM não têm classe social — pelo menos, na teoria. Mas a prática conta outra história. Uma pesquisa publicada na revista Social Psychology & Personality Science, com mais de 14 mil homens e mulheres, mostrou que pessoas em cargos mais altos têm maior propensão a se excitar com práticas de submissão e sadomasoquismo.
Pois é, quanto mais poder alguém tem na vida pública, maior a chance de que, na vida privada, esteja usando uma coleira e gemendo gostoso enquanto leva uma palmada. E não é só uma brisa da minha cabeça, não.
Os dados da pesquisam mostram que:
Os homens tendem a se excitar mais com o masoquismo e submissão;
E as mulheres, com o sadismo e dominação.
Fetiche como alívio, liberdade e interpretação
Sempre falo que fetiches vão muito além do prazer sexual. Eles também são engraçados, teatrais, lúdicos, íntimos. São adultos jogando jogos, seja de lutinha, de interpretação ou de entrega.
E é aí que mora a graça: tem quem se encontre no prazer de controlar, tem quem se acalme no prazer de obedecer. São papéis temporários, reversíveis, seguros — e, acima de tudo, consentidos. Não é à toa que a primeira prática a se fazer BDSM é a negociação.
Quando falamos de posições de poder, fica ainda mais interessante.
Não são raros os casos de executivos, líderes, diretores — gente que toma decisões grandes todos os dias — que nas sessões querem ser chamados de “sub” e levarem umas boas palmadas com régua de madeira.
E digo mais, isso não tem nada de doença, nem desvio. É só um corpo pedindo um espaço onde ele não precise estar no controle.
O desejo se organiza onde o mundo sufoca
Saindo um pouco do campo da pesquisa e entrando no que observo nas conversas, nos atendimentos, nos bastidores: claramente existe um padrão.
Muitas pessoas em cargos de liderança, especialmente mulheres, tendem a buscar espaços de submissão nas relações íntimas. E não é contraditório, uma mulher que passou o dia inteiro se impondo, decidindo, liderando… às vezes só quer não precisar ser forte. Nem sempre o prazer está no que te empodera. Às vezes, ele mora exatamente no lugar onde você se permite ser cuidada, frágil e entregue.
Já ouvi relatos de gente poderosa no trabalho que, durante uma sessão, gosta de praticar age play — uma dinâmica em que a pessoa interpreta outra idade. Tipo pintar livro de colorir no tapete da sala, enquanto alguém serve suco e coloca um desenho na TV. A graça não está na infantilização, mas na suspensão temporária das pressões adultas. Sem planilha, sem cobrança, sem mundo corporativo.
Fetiches podem ser válvulas de escape, e o que cada corpo encontra como válvula diz muito mais sobre o que ele está tentando aliviar do que sobre qualquer “desvio” de normalidade.
A feminista que é submissa: pode isso?
Claro que sim! A submissão, nesse contexto, é um ato ativo. Uma sessão bem estruturada de BDSM é feita com consentimento, regras claras e com um botão de pausa sempre à mão. Se entrega por escolha, não por imposição. É uma dança de confiança, e dançar exige entrega dos dois lados.
Feminismo não é sobre nunca abaixar a guarda. É sobre poder escolher a quem, como e quando se entrega. Se isso não é liberdade, eu não sei o que é.
O corpo encontra um jeito, não adianta fugir
Um exemplo icônico foi o de Max Mosley, ex-chefe da Fórmula 1, que esteve envolvido numa polêmica por causa de vídeos em que aparecia apanhando de várias dominadoras. Isso causou escândalo na época, mas pra mim só confirma o que a gente já sabe: ninguém está imune à complexidade do próprio desejo. Nem bilionários. Nem você.
Importante dizer que o estudo citado é correlacional — ou seja, não dá pra afirmar uma causa exata entre status social e fetiches. Mas os dados levantam uma hipótese que se repete na prática: quanto mais a gente engole sapo, mais o corpo encontra um jeito de cuspir.
E aí cada um faz isso de um jeito: tem quem beba no fim do dia, quem fume um, quem vá suar no hot yoga… e tem quem encontre alívio numa bela sessão de impact play, cheia de regras.
O mundo já é cruel demais. As pessoas são rudes, o capitalismo te engole vivo — e às vezes, tudo que você quer é interpretar um gato emburrado e arranhar quem ousar te chamar de adulto funcional.
O corpo sabe. E o desejo também.
O desejo é uma resposta criativa a um mundo que constantemente tenta nos formatar.
E muita atenção pois não estou dizendo que Elon Musk (embora eu desconfie) ou que todos os milionários, CEOs e mulheres poderosas do mundo são do BDSM; o poder só aumenta as chances, não é uma regra.
No fim, é isso: a gente só quer um lugar onde possa existir sem precisar se explicar. Onde o corpo fale a própria língua, onde a fantasia nos salve (nem que seja por algumas horas).
E se for pra sobreviver ao capitalismo tardio, que seja com mais imaginação, mais liberdade e, por que não, com um chicote à mão.
Enfim, tô com esse assunto batendo na minha cabeça a mais de uma semana haha, se quiserem as pesquisas e referencias desse texto deixa aqui nos comentários que eu coloco pra vocês!
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Beijos, Mel da Kynktopia.
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